quinta-feira, 20 de maio de 2010

"São sete horas da manhã, vejo o cristo da janela..."

A diferença entre o Cazuza e eu, além de eu estar vivo e nunca ter sido playboy, é que eu sequer vejo o cristo da janela. Poderia dizer também que às 7h da manhã eu estou acordado há mais de uma hora, e ele provavelmente estaria indo dormir...

O fato é que, apesar dos pesares, o cara mandava bem e eu gosto de muitas músicas dele. E essa música, Um trem para as Estrelas, acaba sendo minha trilha sonora de todas as manhãs, mesmo que inconscientemente. Essa visão de mundo como sendo um emaranhado de engrenagens que se movimentam compulsivamente e de maneira totalmente alheia à nossa vontade é uma visão talvez pessimista, quiçá meio adolescente, mas é ainda a minha visão. E eu não sei se isso um dia vai mudar... "Eu vou dar o meu desprezo / Pra você que me ensinou / Que a tristeza é uma maneira / Da gente se salvar depois". O desprezo... Pra mim, o desprezo é o pior sentimento que alguém pode nutrir. Não amo, não desgosto, não odeio: desprezo. É cortante, é dolorido. É desprezo.

Acontece que me faltam palavras. É esse o problema da minha vida atualmente, me faltam palavras. Não sei se a faculdade, o trabalho, o mundo, ou eu mesmo, mas o fato é que algo usurpou de mim a grandiloqüência dos meus vinte e tantos anos. O destino me calou. O soco na boca do estômago do quotidiano doeu mais forte dessa vez.

Num trem pras estrelas / Depois dos navios negreiros / Outras correntezas"Corrói por dentro. Não me acostumo, não me habituo. Mas vou levando... Vou levando, sabe-se lá como! "O amor, Carlos, você telúrico, a noite passou em você, e os recalques se sublimando". Entretanto, eu caminho, como Carlos. Melancólico e vertical. Até quando? Ninguém sabe...