tag:blogger.com,1999:blog-52275469912396336972024-02-07T18:04:23.683-03:00Em pé no balcão<em>"Quando ninguém mais tem dono, o garçom tá com sono, e a primeira edição circulou <br>
Quando não há mais saudade, nem felicidade, nem sede, nem nada, nem dor<br>
Quando não tem mais cadeira, tomo um besteira de pé no balcão..."</em>
<br> <br>
Apenas um cantinho destinado às palavras tortas deste que vos escreve (e seus amigos!). No estilo "Pensando Alto" aliado à tão antiga "Filosofia de boteco". Peça mais um copo, coma um torresmo e vá dando uma sapeada...Unknownnoreply@blogger.comBlogger55125tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-5506956290276862342016-07-16T17:52:00.000-03:002016-07-16T17:52:06.347-03:00Julie<div style="text-align: justify;">
Era só mais um diálogo trivial. Eu ali, forte, sereno, conversando como quem comenta uma notícia de jornal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É estranho, eu disse. É como se houvesse uma estranha empatia com quem nunca conheci, uma saudade de algo que nunca vivi, uma ternura por alguém cuja mão eu nunca, nunca segurei... Uma vontade estranha de chorar, e...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Chora! Ela interrompeu, segurando a minha mão com uma ternura que nunca conheci. Olhou fundo nos meus olhos e disse: chora, Gá. Chora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chorei. Chorei tanto... E nunca chorar foi tão bom. Nunca soube exatamente a razão, nunca tive a menor ideia de por que aquilo me tocara tanto. Mas chorei. E nunca chorar foi um alívio tão reconfortante... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi-se. Não disse adeus, simplesmente foi. Mal a conheci, mas sua dor também em mim doeu - estranho. Foi-se. Quis ir. Enquanto tantos lutam para ficar, ela escolheu partir. Eu não a culpo, não cabe a ninguém culpar esse gesto, porque ninguém sabe o desespero que é querer partir e se obrigar a ficar. Ela se foi. O sol de hoje, ela não viu raiar. Ela se foi porque quis, foi para se deitar e ser enfim feliz, sem se levantar. Sem nunca mais sentir, fechou os olhos para sonhar, sua alma então gritou, e quem ficou não pôde ouvir - a quem ficou só restou chorar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É estranho porque tudo o que sei dela é o seu nome: Julie. Seu nome, e nada mais. Não a conheci. Nunca a vi. Mas seu nome, e sua triste história, me tocaram. E é estranho, porque parece que há algo que nos conecta. Mais do que achar que eu compartilho do seu desespero (quanta petulância minha! Quem sou eu para compartilhar do desespero de quem não conheci?), meu peito sufoca de um jeito estranho quando sinto, sem querer sentir, uma vontade também estranha de segurar a sua mão, de abraçá-la demoradamente enquanto falo bem baixinho ao seu ouvido: hei! Calma. Calma que tudo se ajeita. Calma que se a dor o peito estreita, o tempo cuida de afrouxar. Calma. Eu sinto aqui pulsar seu peito, no meu peito, sincronizando a pulsação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sua mão. Eu queria ter podido segurar a sua mão. Eu queria ter podido lhe abraçar, secar suas lágrimas. Eu queria ter podido ouvir a sua dor. Eu queria ter podido dividir a sua agonia. Eu queria tê-la conhecido um dia. E hoje, já não bate mais seu coração – o coração que não conheci. Por que partiu? Por que parou? O mundo precisava de você. Eu precisava também, sem nunca ter sabido, mas você foi antes, quis ir além, e a gente nunca se encontrou... Eu não lhe conheci... E você partiu</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-58753923841370629932015-12-03T10:46:00.001-02:002015-12-03T10:46:17.766-02:00Flor do cerrado<div style="text-align: justify;">
Desci do avião pensativo. Dez anos. Há mais ou menos dez anos que nos conhecemos. Lembrei vagamente daquela festa da faculdade, e tentei desenterrar como foi a primeira conversa que tivemos. Não lembrava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Há dez anos nos conhecemos. Há pelo menos uns dois não nos víamos... Há uns bons sete ou oito anos demos nosso último beijo. Quando foi? Também não lembro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Nesse ínterim, vário desencontros, emails, cartas e mensagens ignoradas - dos dois lados. Por fim, anos depois, superamos as dificuldades momentâneas da vida e marcamos um encontro. Ela mora em Brasília, e eu, de passagem, resolvi esticar a viagem e encontrar o meu passado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sou ansioso. E acho que meio bipolar. Não, sou ansioso. Mas bipolar, não. Mentira, sou bipolar sim. Na verdade, não sou bipolar, mas talvez eu tenha meus momentos de bipolaridade. Mas ansioso, isso eu sou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desembarquei e avisei que cheguei, ela respondeu que me buscaria. Mandou esperar na parte do embarque. Pus-me embaixo de uma placa enorme com o número 5, tirei uma foto e mandei pra ela por mensagem. Pronto. Era só esperar, mas eu sou ansioso...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela avisa: em quinze minutos eu chego. Eu sou ansioso, e meio bipolar. Atravessei a rua e acendi um cigarro. E se ela não gostar de cheiro de cigarro? Estaríamos quites, já que eu também detesto. Só fumo quando estou muito ansioso (ou bipolar).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E se eu fosse embora? Virasse as costas e corresse pro balcão da Gol, antecipasse minha passagem e entrasse no primeiro voo com destino a SP? E se ela simplesmente fosse embora? Dissesse "Hey, estou chegando!" mas no meio do caminho mudasse de ideia - vai que ela também é bipolar - e tomasse outro rumo? Se ela me largasse ali, plantado, e simplesmente não atendesse minhas ligações nem respondesse minhas mensagens? O que eu faria?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei. Terminei o cigarro. Olhei no relógio. Passaram cinco minutos. Pareciam cinquenta. Outro cigarro, outros cinco minutos. Saí dali, comprei um Trident e voltei a ficar plantado sob a placa de número cinco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela chegou. Reconheci logo que vi o carro. Desceu, e me recebeu com um abraço e um sorriso. Senti-me bem. Era como se ela estivesse voltando de um cafezinho, como se a gente tivesse acabado de se ver. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E foi isso. E foi um alívio danado vê-la ali, em carne e osso. Materializada na minha frente, e não mais aquela figura etérea e platônica das taças de vinho solitárias e poemas ressentidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gosto dela. Acho que temos muitas coisas em comum. Não sei se já fomos apaixonados... Ficamos. Relembramos aqueles tempos de tanto tempo atrás. Não foi ruim, nem um pouco. Mas não foi aquela coisa avassaladora que um dia pensei que seria. Porque não existem paixões avassaladoras. Somos amigos. Ficamos. Talvez fiquemos de novo. Talvez sigamos sendo apenas amigos. Talvez ela não me procure mais. Talvez eu tenha um surto de bipolaridade, alterne a chavinha para o lado "B", e resolva ignorá-la. Tomara que não. Gosto dela. Mas sou meio bipolar.</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-71504607203774743392015-09-24T17:32:00.000-03:002015-09-24T18:18:26.063-03:00Carta aberta a uma pessoa vazia<div style="text-align: justify;">
"<i>Na praça Clóvis</i><br />
<i>Minha carteira foi batida</i><br />
<i>Tinha vinte e cinco cruzeiros</i><br />
<i>E o teu retrato</i><br />
<i>vinte e cinco</i><br />
<i>Eu, francamente, achei barato</i><br />
<i>Pra me livrarem</i><br />
<i>Do meu atraso de vida</i>" - Paulo Vanzolini<br />
<br />
Querida,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
eu poderia lhe enviar uma mensagem - direta e assinada, mas achei mais eficaz publicar este post - já que você lê tão frequentemente meu blog (sim, eu sei disso. Talvez seus amigos não sejam tão amigos quanto lhe parecem...).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É provável que neste momento haja em você um rompante de felicidade misturado com alívio. Certamente esse alívio é maior do que aquele que eu senti em janeiro deste mesmo ano, já que eu tinha plena segurança do desfecho que tive (enquanto você, tenho certeza, duvidou muito da sua sorte).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sabia bem quais eram as minhas (poucas) chances de êxito quando pedi um julgamento antecipado. Sabia também que se não tivesse feito esse pedido, teria chances exponencialmente maiores de vencer, a cada novo ato daquele processo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Só que não quis. Deliberadamente, optei por não ser obrigado a olhar para a sua cara cínica nunca mais nesta vida, ainda que soubesse que o meu asco naquele momento só não seria maior do que a sua agonia, ainda que soubesse o quão fácil seria provar em juízo que você é uma mentirosa arrogante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a sua lição já foi suficiente, e valeu cada centavo que paguei por ela. Seu breve período de agonia, e as noites de insônia proporcionadas pelo medo de perder aquilo que você mais preza nesta vida (dinheiro), para mim são mais que suficientes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A sua correria desesperada para tentar encontrar provas e argumentos que justifiquem o injustificável já me proporcionaram o suficiente prazer que eu queria. E que prazer! É pena que o processo digital ande tão rápido... Fosse nos velhos tempos de papel, teríamos aí pelo menos um aninho de agonia para a sua torpeza.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não sou mesquinho como você. Não vou perder o precioso tempo da minha vida tentando "destruir" alguém cuja vida já é, por si só, insignificante - e aquilo que é insignificante não precisa ser destruído.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sua mediocridade, sua frivolidade e a sua pequenez de espírito já são mais do que suficientes para "destruir" a sua vida sem sentido. Seu próprio rancor já lhe afogou, faz tempo, e nunca conseguiu me atingir. Por isso, não recorri! Have fun! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O dinheiro que gastei foi completamente insignificante pra mim. Seja porque representa uma ínfima parte do que ganho (2,8% do meu último bônus, pra ser mais exato. Ou, 50% do que gastei em vinhos na minha última viagem, mês passado), seja porque eu não sou a ganância em forma de gente como você.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já o dinheiro que você gastou... Esse lhe doeu! Cada centavo pago certamente foi uma fisgada no fígado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Caráter: ou se tem, ou não tem. Espero que você tenha aprendido a lição,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ass. Bululu, que um dia foi muito trouxa, mas há tempos não é mais.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-81146148598021371102015-05-29T13:47:00.000-03:002015-05-29T13:47:12.862-03:00Adeus!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Maio lhe abraçou. Talvez você tivesse, lá no fundo, uma
certa esperança de que setembro chegaria. Outro ciclo, outro aniversário.
Talvez estivesse ali, por debaixo daquele corpo inerte que respirava e entendia
o mundo sem poder se manifestar... Talvez ali você dissesse para si mesma:
setembro vai chegar. Talvez ainda sonhasse com algum presente, será?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ou talvez só estivesse esperando que aquele sofrimento
chegasse ao fim. E chegou, junto com a vida. Maio lhe abraçou, forte, e levou
pelos braços quem tantas vezes passou por ele correndo e feliz, saltitando de emoção
enquanto setembro ia se aproximando. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E o alívio de ver pela última vez aquele rosto não franzido
de agonia, mas sereno adormecido, surgiu em mim quase como culpa. Quase senti
repulsa por me sentir aliviado com a morte. Mas não era descabido esse
alívio, era justo. Era misericordioso...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O baque seco da primeira pá de terra sobre a madeira me fez
entender pela primeira vez: era o fim. Aquele rosto agora estará apenas na
lembrança... Nos sonhos e nas fotografias amareladas. Você se foi, com toda a
sua candura, e todos aqueles anos sofridos carregados nas costas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nessas horas eu queria acreditar em deus. Achar que tudo faz
sentido, e que tanto sofrimento em terra seria compensado pela alegria eterna
no paraíso. Mas a única coisa que posso tirar disso tudo é: a vida acaba. É
preciso vivê-la intensamente, em cada segundo, pois mais dia menos dia, vem um
maio - ou setembro, ou dezembro - e nos abraça forte... Fecharemos os olhos e não
ouviremos o baque seco da terra sobre a madeira que está acima de nós. Nem o
choro dos que ficam, nem o riso dos que críamos que iriam nos receber. <o:p></o:p></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-83349863323978598362015-05-05T15:11:00.001-03:002015-05-05T15:11:31.284-03:00Era tudo Sakê<div style="text-align: justify;">
- Às vezes eu custo a crer que eles não estão mais juntos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ele diz que acabou porque tudo virou Sakê.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como assim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quando se conheceram, acharam que era o paraíso. Ele achou que era o paraíso. Não, minto, ele não achou nada! Ele tinha um baita de um pé atrás. Não queria se entregar nem a pau - gato escaldado tem medo de água fria. Mas era tudo tão perfeito, que ele arqueou. Dobrou, cedeu, e pulou de cabeça. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí foi aquela coisa, tudo se encaixava, tudo fazia sentido... Era a única pessoa que parecia curtir as mesmas maluquices que ele curtia. Era a única pessoa com quem conseguia sonhar viagens absurdas aos lugares mais inusitados, fazer planos mirabolantes, gostar de natureza, gostar do mesmo prédio velho cor-de-rosa e azul, andar de bicicleta, etc, etc., etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí um dia mataram uma garrafa de Sakê num restaurante japonês, e foi sensacional. Conversaram por horas, riram, e foi a primeira vez que ele respirou fundo e pensou "é ela!".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Parecia aquele lance piegas de alma gêmea. Até as mesmas manias de adolescente eles tiveram quando eram adolescentes. E ela era apaixonada por Bossa Nova, MPB, curtia Chico Buarque, e bebia cerveja. E ele, era apaixonado por ela, por Bossa Nova, MPB, curtia Chico Buarque, e bebia cerveja. Acho que foi a única pessoa que ele conheceu que também amava a nona de Beethoven. As outras mulheres pra quem ele dizia isso, geralmente faziam cara de "credo, que nerd", querendo dizer "credo, que nojo!".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Às vezes, ele imaginava como seria delicioso morarem juntos. Ele chegando em casa do trabalho e preparando o jantar, enquanto abriam uma garrafa de vinho. Daí ela reclamaria do trabalho, ele reclamaria também, mas no terceiro gole de vinho eles esqueceriam que pudesse haver tristeza no mundo, e começariam a planejar as férias ou o próximo carnaval enquanto ouviam aquele CD ao vivo do Tom cantando Vinicius.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí o tempo passou e um dia ela disse: lembra aquele dia do Sakê? Preciso te contar! Eu odeio Sakê! Mas a noite foi memorável. E eles riram... O Sakê era o de menos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí o tempo passou, e sabe a MPB? Ela não talvez não gostasse tanto assim... Daí o tempo passou e ela talvez não quisesse realmente viajar para lugares pouco usuais... Aliás, talvez ela nem quisesse viajar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí o tempo passou, e talvez ela preferisse reclamar do trabalho a beber vinho e planejar viagens... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí o tempo passou, e tudo virou Sakê. E ele percebeu, então, que amou uma ilusão. Ele gostava de Sakê! Só que ela, não. E a vida continua, mas de vez em quando ele lembra daquele vestido preto de bolinhas brancas meio anos 60 e sente uma pontadinha fina lá no fundo do peito...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E nessa hora, apesar de ainda gostar de Chico Buarque, ele vai de Fagner e Cecília Meireles mesmo: "<i>quando penso em você / fecho os olhos de saudade..</i>.". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Caramba! E agora?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Ah... Agora, bola pra frente. Com tanta gente no mundo, deve ter alguém por aí que goste de Sakê, né?</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-22643146565166476782015-05-02T17:11:00.001-03:002015-06-25T18:08:19.569-03:00Diálogo Insólito<div style="text-align: justify;">
- Você é genial. Eu sei identificar pessoas geniais, sou psicóloga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Você está falando comigo há meia hora, moça. Não tem como saber se sou gênio ou uma mula.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Já falei, sou psicóloga. Só precisei de cinco minutos para saber que você é geninho..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Se eu fosse genial, com essa idade minha aqui, eu já seria um líder famoso, um mega empresário do vale do silício, um escritor conhecido, um professor renomado... Qualquer coisa de brilhante. No entanto, cá estou eu. Sou só mais um, no meio de tantos. Sou medíocre, não sou genial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Sabe por que não? Porque é diferente. De fato, você está no meio de um monte de outros semelhantes. Mas, diferentemente deles, você não fez o menor esforço para estar aqui. É simplesmente natural... Outras pessoas varam noites estudando, quebram a cabeça para resolver pepinos que pra você são banais, leem cinquenta vezes aquele texto que você bate olho e já entende tudo. Você poderia ser famoso e renomado se tivesse se esforçado no mesmo tanto que esses todos outros se esforçaram para serem medíocres como você diz...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- É. De fato, a mediocridade é opcional. Eu sempre soube disso...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Pois é.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Pois é... Então sou um gênio, mas vagabundo</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
- Fiquemos com a parte do gênio, gênio...</div>
</div>
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-47619681863505216252015-04-21T11:14:00.001-03:002015-04-27T10:44:21.873-03:00O Espelho<div style="text-align: justify;">
Eu grito. Derramo meu grito seco e abafado por entre as frestas que se abrem no destino. Eu tento me resignar, ao menos por fora, mas por dentro eu me contorço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu ando em círculos, e fico tonto. Eu busco o sentido de uma vida que se desdobra em um mundo sem sentido. Eu retribuo com meu sorriso amarelo os afagos da hipocrisia moderna. Eu resisto. Sou, acima de tudo, um bravo resistente. Faço de conta que não me incomoda e vou tocando o bonde, como quem caminha em direção ao abismo mas faz questão de sorrir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquele poema dizendo que "a vida me foi sempre dúplice, angulosa, é cordial quando nega e escassa quando dá" nunca caiu tão perfeitamente como agora. Porque os anos passam e essa sensação de quase-vida é a mesma... Um misto de determinação capenga com resignação por preguiça. Não cerro os punhos para a vida real, mas a vida real é quem cerra os seus e me acerta em cheio na boca do estômago.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sou um emaranhado de retalhos do que fui misturado a uma confusão de cacos do que queria ser. Sou isso, sou essa coisa disforme e semovente, cujos sonhos fazem questão de naufragar - um a um - só para esfregar na minha cara que isso não é para mim, é só para os outros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto falta não só do frio na barriga, mas do horizonte. Dos planos que se encaixam, dos anseios e das angústias. Nem isso mais a vida me dá... Mas eu vou levando... Caminhando... "melancólico e vertical", por pirraça ou curiosidade - onde mais isso vai dar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-72628947172503950282014-08-26T13:39:00.001-03:002014-08-26T16:21:10.173-03:00Caro Gabriel de 2004<div style="text-align: justify;">
Caríssimo Gabriel de 2004. Quem lhe escreve é você mesmo, mas dez anos mais velho (ou, "maduro", tucanando o termo! hohohoho).</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Cara! Hoje eu estava revirando as minhas coisas e encontrei um texto seu. Tão longínquo é o momento em que ele foi escrito, que eu não pude me lembrar quando foi, nem qual o contexto. Mas senti uma puta saudade de você! Então resolvi escrever para lhe contar da vida e lhe dar alguns conselhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
É agosto, e você deve estar bem focado no vestibular. Não desiste, cara! Você vai adorar o Direito, ainda que demore alguns anos pra entender isso. Você vai conseguir morar fora, como sempre sonhou, vai aprender uma outra língua - e se apaixonar por ela. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando entrar na faculdade, logo de cara, você vai conhecer um tal de Direito Romano. E vai ter contato com coisas bizarras tipo "previdenciário", "tributário", e "títulos de crédito". Foge disso! Desencana de tentar aprender essas matérias seriamente. Vá pro porão jogar truco, que você ganha muito mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Seja mais tolerante também com seus colegas de faculdade. Vai ter um cara que vai sentar perto de você. Ele só usa camiseta preta e tem um puta discurso conservador, mas é gente boníssima. E vocês ainda serão grandes amigos!</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Você vai se formar e ter um emprego bacana. Vai trabalhar em lugares legais! Você não faz ideia! Você vai ter um jipe! Sim, um 4x4 vermelho e todo equipado, do jeitinho que você vive sonhando agora. Mas não será um Niva... É que agora não fazem mas ele por aqui. Será um 4x4 muito mais legal, vermelho, e zerinho! E você vai ter uma namorada que será exímia navegadora! E você vai ser um excelente piloto!!!</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
E a sua namorada vai aparecer em videos de GoPro (anota esse nome. Um dia você vai amar ter uma GoPro) com casaquinho branco e pranchetinha na mão, e você vai ficar se apaixonando infinitamente a cada vez que rever o video.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Você vai viajar pra cacete! Vai conhecer todos os lugares que quis! Nova Iorque, França... Manaus, Pará, Dublin... Vai voltar pra Buenos Aires e ver que tá tudo igual, só que completamente diferente! Você vai ter amigos sensacionais. E vai rir muito com eles! </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Já o mundo, esse continua maluco, viu... Muita coisa mudou - é verdade. As pessoas estão mais tolerantes e talvez menos preconceituosas, mas a caretice ainda rola solta. O governo de SP continua nas mãos do mesmo pessoal que te faz perder aula da ETESP e xingar muito na paulista. Mas você será um pouco mais resignado com as mazelas do mundo em que vivemos.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Agora uma dica importante: estude música. Faça aulas de violão, e também de piano. Sério! Foca nisso aê, pega suas economias e vai fazer aulas em um lugar bacana. Porque daqui a dez anos você terá uma vida irada, vai viajar pra caramba, fazer tudo que gosta, vai continuar amando música e poesia, mas vai tocar violão tão mal... Mas tão mal! Dá até dó!</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Além disso, você vai se deparar com uns pianos por aí. E ficar olhando pra ele com cara de "o que eu faço agora"? E, o pior: você terá uma namorada que canta muito bem... E ela vai fazer tanta chacota com você pelo fato de você mandar muito mal com qualquer instrumento musical, que você nem imagina! Mas você a amará mesmo assim :-)</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
É isso aí, cara. Sorte, e não desista nunca! Continua escrevendo, porque no futuro você vai amar reler seus poemas todos. Não desiste de estudar! Desencana de fazer qualquer tatuagem, e haja o que houver, caríssimo, siga sonhando. Vai valer a pena!</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Um grande abraço,</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Gabriel de 2014.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-77986243701801919322014-01-08T16:47:00.003-02:002014-01-08T16:47:21.351-02:00Felicidade<div style="text-align: justify;">
Tanto faz. O problema não é necessariamente não saber o que sentir, o problema é ter necessariamente que sentir. Sim, porque na verdade o que acontece é só um sei-lá-eu-o-quê, entende? Se sou feliz? Não sei dizer. Também não tenho a menor condição - e nem pretensão - de saber se fui feliz. Mais do que isso: não tenho a menor ideia do que seja felicidade. Bom era quando era pequeno, que felicidade era quando minha mãe voltava do trabalho me trazendo um chocolate. Hoje em dia, não sei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque depois disso veio a vida, vieram as pessoas que passaram por ela... E o dia a dia nunca é tão ameno nem visceral quanto descrito nos poemas e livros que eu mais gostava. Na verdade, a vida é insossa. O que não quer dizer que seja ruim, longe disso! Só falta nela essa alguma coisa que sei lá eu o que é, mas que meu estômago e fígado já deixaram claro: não é cachaça, meu velho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Só sei que sempre foi assim: a felicidade sempre esteve logo ali, mas nunca aqui. Bom mesmo vai ser quando eu tiver dezoito anos! Merda nenhuma, fiz dezoito e nada mudou. Bom mesmo vai ser quando eu entrar na faculdade! Mentira, as coisas só continuaram igualmente confusas e conturbadas... Depois a esperança foi o estágio, a viagem, o intercâmbio, a formatura, o emprego, o salário, o bônus... Merda nenhuma. Sem perceber fiz da minha vida um eterno dezembro a esperar que janeiro chegue - mas ele não chega nunca! E se chegar, sei que vou mudar os planos e concentrar todas as minhas forças e esperanças em fevereiro, onde a felicidade estará me esperando de sorriso amarelo no rosto e com os bracinhos felizes e abertos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porra nenhuma. A vida é agora. A felicidade é só um estado de espírito. Quero que se foda o futuro próximo. A vida é hoje.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-33748607948343484992013-12-20T16:44:00.003-02:002013-12-20T16:44:54.473-02:00Preconceito à Feliccianna<div style="text-align: justify;">
É nojento. Nojento, e repugnante. Não é nada natural, não! Não é e não pode ser. Eu não consigo entender como existem pessoas que podem comer queijo. Queijo é leite podre! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, tudo bem. Se existem algumas pessoas doentes que realmente sentem prazer em comer queijo, que o façam... Mas não na minha frente, né? Nem em público! Cada um faz o que quiser com o próprio corpo, digo, a própria boca, desde que entre quatro paredes. Não sou obrigado a ver isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E outra, o que as crianças vão pensar? Imagine se meu filho vir alguém na rua comendo queijo? Como vou poder explicar para ele que aquilo é abominável, é errado, mas ainda assim tem gente que faz?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, veja bem: eu não tenho nada contra quem gosta de comer queijo. Só não acho que isso deve ser incentivado assim, né... O que esse povo quer é uma ditadura do queijo! Querem fazer lavagem cerebral na criançada pra que todo mundo aprenda a comer queijo. Cara, que absurdo! Não vêem que isso é errado? E além disso, é sabido que queijo causa esterilidade. Se ensinarem nossas crianças que comer queijo é bom, todo mundo vai comer queijo e o mundo não vai mais se reproduzir! Daí a humanidade acaba!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Claro, tem pessoas que gostam de comer queijo mesmo tendo sido criadas em famílias que detestam queijo. Há pais que mesmo nunca tendo sequer tocado uma muçarelazinha de leve têm filhos que são alucinados por gorgonzola e outros queijos azuis - ECA! Mas, então! Se sem ser incentivado já é assim, imagine só se for! Loucura! Cara, não pode ser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, cara. Não tem nada a ver. Comer carne não é igualmente nojento, porque carne é natural! A gente nasce sabendo que carne é bom, e além disso, tá na bíblia. Não dá pra querer comparar uma coisa com a outra. E outra, pode ver, 90% da população adora comer carne e detesta comer queijo. Se fosse natural comer queijo, então pelo menos metade das pessoas no mundo iria gostar disso, não acha? Mas, sabe, eu não tenho preconceito... Acho que se querem legalizar esse negócio de comer queijo, tudo bem, mas podiam então fazer um plebiscito, né? Aí o povo vai - democraticamente - escolher se isso é ou não bom. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como assim isso não pode ser feito?Tá maluco, cara? Você tem medo da democracia? Ora, não é questão de submeter o direito de uma minoria já marginalizada e oprimida ao beneplácito de uma maioria preconceituosa, isso é democracia, cara! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, eu não sei por que a Princesa Isabel não fez um plebiscito para abolir a escravidão. Mas devia ter feito, né? E se a maioria dos eleitores - que na época eram só brancos, já que escravo não votava - escolhesse pela manutenção da escravidão? Ora... É a democracia né, meu!? Não tem muito jeito não...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, cara. Não posso aceitar isso... Pessoas não podem sair por aí comendo queijo como se isso fosse normal! Eu sinceramente acho que isso é questão de criação, cara... Faltou a molecada levar uns tapas quando era pequena pra aprender que comer queijo é errado. É que a sociedade de hoje é muito cheia de frescurada! Nem educar os filhos a gente pode mais!</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-7713713244230149132013-12-05T16:35:00.002-02:002013-12-05T16:35:28.302-02:00Efêmero<div style="text-align: justify;">
Foi quase. Quase um desespero, um grito abafado, quase um soluço. Foi quase uma vida, foi quase um amor. Quase deu certo, por pouco não rolou. Foi assim, foi quase. A vida inteira dele havia sido quase. Quase triste, quase feliz, quase lindo, quase quase.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quase se formou, quase teve um bom emprego, quase foi promovido, quase se casou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a ânsia medonha desse meio-termo xôxo era o que mais o afligia. Seja quente ou seja frio, porque se for morno, eu te vomito. Mas era morno e ele sequer conseguia vomitar. Ser obrigado a conviver com a própria mediocridade dia após dia é uma pena pra lá de cruel. É desumana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A teoria do caos diz que o bater das asas de uma borboleta pode gerar um tufão do outro lado do mundo. E se fosse assim? E se uma borboleta tivesse batido as asas em algum momento lá no passado? E se ele não tivesse nunca ido àquela festa? Ou acertado aquela última questão da prova? Se ela nunca o tivesse convidado para sair? Se ele nunca tivesse quase se apaixonado? E se ela nunca tivesse quase tentado fazer dar certo? E se eles nunca tivessem quase se casado?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O medo não é da altura, é da queda. Andar na beirada não é o problema, não cair e nem recuar é que é. A vida é breve, ou quase breve. Todos são ótimos em alguma coisa e horríveis em tantas outras. Extremamente bem sucedidos nos negócios, uma negação no amor. Genial com números e uma aberração com palavras. Um gênio da prosa e uma mula dos cálculos. Ele não. Ele era mediano em tudo. Era nota cinco. Era insosso, era cinza. Era despercebido, era quase. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era quase, e ser quase na vida foi a sua sina. E a vida inteira, quase viveu. E quase viver é pior do que morrer. </div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-9484905849276532032013-10-11T23:33:00.000-03:002013-10-20T18:10:27.147-02:00Não é muita coincidência o amor da sua vida aparecer justamente na sua vida?<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Era engraçado. Na verdade, era
assustador e engraçado. Parecia que eles se conheciam há dez anos mas, ao
mesmo tempo e paradoxalmente, parecia que há dez anos não se viam.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele se sentia como se estivesse
há dez anos esperando que ela aparecesse ali, na sua frente, com uma taça de
vinho na mão, para ouvir com cara compenetrada todas as suas histórias malucas,
seus projetos mirabolantes, suas mil e uma teorias sem sentido, suas análises
críticas amadoras e profissionais sobre músicas, poemas, bulas, tratados e
marcas de macarrão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Era como se há dez anos ele
esperasse por ela sentada do seu lado contando seus planos, suas músicas
favoritas, suas viagens, suas histórias e suas teorias. Era como se aquela
risada espontânea estivesse há décadas esperando unicamente para surgir ali,
naquele rosto paradoxalmente familiar e desconhecido.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Era isso. Quando ele a via,
parecia que o tempo parava. E ele não sabia por onde começar! Era tanta coisa
pra contar, pra perguntar, pra rir, pra dividir. Era tanta dúvida! Não sabia
como conciliar beijos, abraços, e diálogos. Porque, afinal de contas, a
sensação era essa: há dez anos que ele acumulara abraços, beijos, promessas e
histórias sem sentido, diariamente, para contar – só pra ela. Mas ela nunca
apareceu... E aí, de repente, ela se materializa alí na sua frente, com aquele
riso bobo lindo na cara, e é hora de esvaziar o estoque, de limpar as
prateleiras! Mas haja tempo pra colocar tanto papo em dia!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porque o restaurante sempre
fecha, o relógio sempre toca, o trabalho sempre chama. E aí fica aquele
sentimento de “espera aí! Falta só mais uma coisa!”, e a frase dita pela
metade. E os versos flutuando pelo ar enquanto ela se afasta do carro e entra
em casa...E a porta se fecha... E a saudade dá aqueles tapinhas no peito, de dentro pra fora, dizendo "Hey! Estou aqui!!"</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“E se eu pudesse entrar na sua vida?” mas “e se um dia ela despencar
do céu”? Não é deliciosamente assustador de repente, e não mais que de repente,
ver-se a si mesmo como personagem de todas as suas músicas e poemas preferidos? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E o que dizer do grito sufocado,
do abraço interrompido... Hei! Mas como pode? Calma aí, falta terminar aquela
história!!! </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Será que é mentira?? Será que é
comédia?? Será que é divina?? Divina, divina...”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E de repente, ele se pegava
fazendo planos para os próximos 10 anos, ao lado de alguém que ele não conhecia
há nem 10 meses, mas que de alguma forma tinha 10 anos de história em comum com
ele, ainda que durante todo esse período suas vidas nunca houvessem de fato se
tocado. Eles existiram por 10 anos, paralelamente, vivendo a mesma vida em
comum, sonhando os mesmos sonhos, mas
sem que se cruzassem. Louco, não? Demais!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por que ter medo se é tão
natural? Simples, meu caro. Porque é natural, mas é desconhecido. E o
desconhecido assusta, faz as pernas tremerem. A gente aguenta tudo, todas as
agruras e intempéries da vida, menos o desconhecido. O desconhecido é um
monstro de sete cabeças, que nunca deixa que saibamos se fará carinhos ou
torturas. E justamente por isso, você está aí, completamente embasbacado, sem
saber se pula de cabeça ou se coloca só a ponta do dedão do pé na água fria.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas então... Vamos para a
Patagônia? O Monte Roraima? Lyon? Guarulhos? Cidade Dutra? Três Corações?
Grajaú? Mercadão? Vamos dormir até acordar? Vamos abraçar até sufocar?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="text-align: justify;">Vamos descobrir o mundo juntos,
baby? Quero aprender com teu pequeno grande coração... Drink up now, its gettin’
on time to close! Quer saber? Pois que se jogue. O medo é fraqueza covarde. O
negócio é ir pra cima... E a vida que me diga, se isso foi agonia, se foi
poesia, ou se simplesmente é rima. O que quer que seja, foi... E foi delicioso.</span>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-47890070460395614942013-09-25T08:49:00.001-03:002013-09-25T08:49:23.131-03:00Bom dia<div style="text-align: justify;">
Eram 7h48m. Faltavam 2 minutos para o despertador vociferar em sua orelha, mas ele já estava desperto. Os olhos perdidos fitavam os números das horas, enquanto o corpo se deixava prostrado na cama. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não queria levantar. Não queria sair daquele pedaço de ilusão aconchegante. Não por medo do dia - que raiava lindo do lado de fora das janelas fechadas - nem tampouco por medo da vida. Na verdade, ele não conseguia definir direito o que era aquela necessidade medonha de ficar sozinho, de fechar-se para o mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pensou que seria cômico sentar-se na cama, acender um cigarro e abrir uma cerveja. Não, não era o que ele tinha vontade de fazer, mas de alguma forma ele achou que seria uma cena interessante de interpretar. Bancar o boêmio intrépido, o poeta alucinado e verborrágico que desperta o fígado com um tapa na cara às 8h da manhã enquanto destila milhares de versos perdidos, rimados, angustiantes e apaixonados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Imaginou-se com os cabelos desgrenhados, a barba por fazer e o olhar blasé fitando o horizonte estampando capas de revistas cult em bancas de jornais descoladas. Imaginou-se sendo lido nos botecos mais sujos, e nos bares mais requintados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez por isso não quisesse sair da cama. Estava sonhando acordado, e aquilo lhe dava um imenso prazer. "A vida inteira que podia ter sido e que não foi..." murmurava entre os lábios ressecados pela sede e pela preguiça de buscar um copo d´água. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Queria ser lido. Queria ser consumido, musicado. Queria ter seus poemas todos publicados, e viver da arte. Morrer cedo, ser visceral. Atirar-se de cabeça na vida, dizer adeus à solidão e à mediocridade. Acordar antes do despertador, e ter vontade não de sair da cama e fazer a barba, mas de sentar-se nela e escrever uma obra prima.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas sonhar acordado não enche barriga. Pulou da cama, já atrasado, fez a barba, vestiu o terno, deu o nó maquinal na gravata e foi trabalhar. Melancólico e vertical.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-78173169371949955022013-08-26T18:23:00.001-03:002013-08-27T16:03:21.373-03:00Ansiedade<br />
<div style="text-align: justify;">
Existem zonas cinzentas na nossa vida. Tipo zonas de amortecimento que separam uma fase da outra. E quando estamos nessa zona de amortecimento, prestes a mudar de uma fase pra outra, surge aquela coisa féladaputa chamada ansiedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Ansiedade que corrói por dentro, que tira o sono e o foco. Ansiedade que faz com que a gente tenha um mórbido desejo latente de entrar em coma por 2 ou 3 meses, só pra não ver o tempo passar. Vontade de dormir em setembro e acordar em janeiro. Essa ansiedade de quem espera a vez na fila, que vai aumentando exponencialmente a cada nova pessoa que é chamada, a cada passo vagaroso que a fila dá. E sempre surge aquele medo "mas vai dar tempo? E se chegar na minha vez e o guichê fechar? Ou se faltar tinta na impressora? Ou se a pessoa que está atendendo infartar?".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Já li em algum canto que ansiedade é excesso de futuro, ao passo que depressão é excesso de passado. Nada mais acertado. Ansiedade é não conseguir viver a porra do presente, porque tudo o que você quer está logo ali, logo mais, no futuro. Só que a ansiedade não bate forte no primeiro ano da faculdade de direito. Ela arrebenta é no último semestre... A ansiedade só surge na boca do gol, ansiedade pelo futuro próximo, pelo desejo na iminência de ser saciado. Loucura isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Respira fundo, e pula. Fecha os olhos e vai! Se joga, se atira no nada, na amplidão do futuro, sem medo. Domar a ansiedade da queda e seguir tranquilo durante o voo. "Arranca, vida / Estufa, veia / E pulsa, pulsa, pulsa, / Pulsa, pulsa mais..." É isso!</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-47186491203216117092013-08-18T13:37:00.001-03:002013-08-19T13:32:28.538-03:00Um conto: retalhos de MPB<div style="text-align: justify;">
Eis aqui tudo de novo, a mesma grande saudade, a mesma grande vontade. Ponho o meu sapato novo e vou passear, sozinho, como der. Eu bato o portão sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade. Se você quer me seguir, não é seguro. Hoje eu quero sair só. Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor. Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Preciso andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar, diz que fui por aí levando o violão debaixo do braço. Eu já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada. Seu segredos, eu sei de cor. Pois é, então. Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz, e que ter medo de amar não faz ninguém feliz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho um peito de lata e um nó de gravata no coração.Tenho uma vida sensata, sem emoção. Não me venha falar na malícia de toda mulher, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Basta de clamares inocência,eu sei todo o mal que a mim você fez. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você desconhece consciência, só deseja o mal a quem o bem te fez.Ah, eu quero te dizer que o instante de te ver, custou tanto penar. Eu quero te contar das chuvas que apanhei,das noites que varei no escuro a te buscar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Valei-me, deus! Você sabe o que é ter um amor, meu senhor? Ter loucura por uma mulher? Queixo-me às rosas: há pessoas de nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração.Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar.O resto é mar, é tudo que não sei contar, são coisas lindas que eu tenho pra lhe dar. Vou seguir os conselhos de amigos, e garanto que não beberei nunca mais. E com o tempo esse imenso vazio que sindo, se esvai. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E se, de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente? E quando de repente atravessando a mesma rua engarrafada, em cada luz de mercúrio vejo a luz do teu olhar. Passas praças, viadutos nem te lembras de voltar... E quando a gente descobrir que as coisas não são mais como propunha o passado pro futuro, quem havia de dizer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se fosse resolver, iria te dizer: foi minha agonia.Pobre de mim, sonhar contigo, jamais. Ah, se eu pudesse, não caía na tua conversa mole outra vez, não dava mole à tua pessoa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ai, a lua que no céu surgiu não é a mesma que te viu. A insensatez que você fez, mulher sem razão! Eu conheço o medo de ir embora, não saber o que fazer com a mão. E eu sinto assim todo o meu peito se apertar, por que parece que acontece de repente, como um desejo de eu viver sem me notar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Adeus, você. Eu hoje vou pro lado de lá. Num trem para a estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas. Eu queria ver no escuro do mundo. Será que você ainda pensa em mim? A Luz negra de um destino cruel ilumina um teatro sem cor onde eu tô representando o papel de palhaço do amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
É, meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza, é preciso inventar de novo o amor.É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe. Mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, senão, não se faz um samba não.<br />
<br />
<br /><span style="font-size: x-small;">*<b style="font-style: italic; text-decoration: underline;">Referência Bibliográfica (atendendo a pedidos):</b><br /><i>Tudo de novo - Caetano Veloso<br />Sapato Novo - Los Hermanos </i></span></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Trocando em Miúdos - Chico Buarque </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Hoje eu quero sair só - Lenine </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Samba do Grande amor - Chico Buarque </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Travessia - Milton Nascimento </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Preciso me encontrar - Candeia </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Diz que fui por aí - Nara Leão </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Retrato em Branco e Preto - Chico Buarque </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Medo de amar - Vinicius de Morais </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Cara a Cara - Chico Buarque </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Dom de Iludir - Caetano Veloso </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Basta de clamares inocência - Cartola Sem </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Fantasia - Chico Buarque </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Flor de Lis - Djavan </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Nervos de aço - Jamelão </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">As rosas não falam - Cartola </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Foi um rio que passou - Paulinho da Viola </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Wave - Tom Jobim </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Peito Vazio - Cartola </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Fantasia - Chico Buarque </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Quem havia de dizer - Oswaldo Montenegro</span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Paralelas - Belchior </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Agonia - Oswaldo Montenegro </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Se eu soubesse - Chico Buarque</span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Serenata do adeus - Vinicius de Morais </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Insensatez - Tom Jobim </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Mulher sem razão - Cazuza </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Estrada nova - Oswaldo Montenegro </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Gente Humilde - Chico Buarque </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Adeus, você - Los Hermanos </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Um trem para as estrelas - Cazuza </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Quase um segundo - Cazuza</span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Luz Negra - Cazuza </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Carta ao Tom 74 - Vinicius de Morais </span></i></div>
<div>
<i><span style="font-size: x-small;">Samba da bênção - Vinicius de Morais</span></i></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-1075312915535176732013-08-06T11:07:00.002-03:002013-08-06T11:07:15.371-03:00Para a Eternidade<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUOXXw9F3CIy3wT6GAYFw8p5Hfgx1nQh4AUmdsFrLHdv3NI_PxmAyUsbZuYr5gnRVwhY4b08pn4SH597BX72K4JpBdhdFldIsmIzgE86-KAPn5u3K1_WTjzrLm_L7HXXr9g1fxD8IFzvAD/s1600/drunk_street_lamps.jpeg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5687155237080613682" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUOXXw9F3CIy3wT6GAYFw8p5Hfgx1nQh4AUmdsFrLHdv3NI_PxmAyUsbZuYr5gnRVwhY4b08pn4SH597BX72K4JpBdhdFldIsmIzgE86-KAPn5u3K1_WTjzrLm_L7HXXr9g1fxD8IFzvAD/s400/drunk_street_lamps.jpeg" style="cursor: hand; cursor: pointer; display: block; height: 288px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 384px;" /></a><br />
Mal saíra do hospital e já estava novamente no bar.<br />
“Se continuar vivendo assim, vai morrer” lhe disse o médico enquanto a porta fechava e ele acendia uma cigarro.<br />
<br />
“Você também, doutor, vai morrer se continuar vivendo” disse ele guardando o isqueiro no bolso.<br />
<br />
“Não foi iss…”A porta fechou-se e ele não ouvia mais nada.<br />
<br />
O
calor estava insuportável. Já não aguentava mais esse calor. Sua camisa
branca já mostrava as marcas de suor na região da barriga e costas, sua
fronte escorria, enchendo as sobrancelhas daquela água salgada e
etílica que emanava do seu corpo. Dava para sentir o gosto do whisky da
noite anterior. O gosto de whisky, o gosto de buceta e aquele gosto
amargo.<br />
<br />
Ele – esse cidadão sem nome – comprou uma
garrafa de vinho barato, daquele vinho que foi proíbido de vender na
cidade, e sentou-se na Avenida Paulista para olhar o gado e imaginar os
fazendeiros.<br />
<br />
Quando foi? Quando foi que eles
conseguiram enganar a todos? Ou pelo menos quase todos. Quando foi que
escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore virou verdade
nacional – ou seria internacional? Quando foi que colocaram na nossa
cabeça que temos que morrer o mais velho possível, o mais tarde
possível, mesmo que isso envolva noites de desespero familiar numa cama
de hospital, com um corpo estragado por tubos e medicamentos. O cérebro
ainda funciona e ele fala – me mate – mas ninguém ouve.<br />
<br />
Ninguém.<br />
Ouve.<br />
<br />
<br />
Levantou-se.
Cansou de observar quando as lágrimas começaram a escorrer-lhe da face.
Vivia num mundo que não lhe fazia sentido e cada vez mais seu coração
ficava apertado pela ausência de profundidade, de verdade, de realidade
desse mundo. Foi por causa dessa ausência que ele sempre preferiu aquilo
que não fazia parte.<br />
<br />
Ele não fazia parte.<br />
<br />
As
prostitutas da baixa classe sabem o que é a vida mais do que as
vagabundas da televisão. Os bêbados do centro da cidade sabem mais desse
mundo do que aqueles alcóolatras engravatados que se formaram em
Harvard. Os viciados em crack da Luz são mais honestos do que aqueles
que tomam remédios para curar a tristeza.<br />
<br />
“VIVA A SUA TRISTEZA!” ele gritou defronte uma farmácia.<br />
<br />
Sabia
que sua vida não duraria muito, mas isso não lhe importava. Preferia a
morte de indignação aos 30 anos do que a morte de servidão aos 85. A
cada queimação no estômago, a cada aperto no peito, a cada catarro mais
escuro ele sentia o toque da tão esperada amiga.<br />
<br />
“O que tem do outro lado?” ele perguntara para a vagabunda mais suja que já havia transado sem camisinha.<br />
<br />
“alguma coisa melhor que aqui” respondeu-lhe depois do pico de heroína.<br />
<br />
Os
anos foram se passando na vida desse cidadão sem nome. Ele continou
comendo suas comidas gordurosas, continuou sem fazer exercícios e
comendo vagabundas sujas sem proteção. Continuou fumando seu maço de
cigarro por dia e bebendo suas três garrafas de whisky por semana.
Whisky barato, no seu quarto barato, da sua casa barata.<br />
<br />
As
baratas continuavam rodando o local trazendo mais alegria para ele do
que toda a humanidade, com exceção de algumas pessoas. Algumas poucas
pessoas que o os anos lhe roubara.<br />
<br />
Os anos se passaram e, mesmo que ele tentasse diariamente, sua amiga não vinha lhe visitar.<br />
<br />
“Acho
que a morte esqueceu de mim”dizia ele para os bêbados do centro da
cidade. Para aqueles mesmos bêbados de 100 anos atrás que ainda
esforçavam-se para serem diferentes. <br />
Aqueles bêbados que já foram artistas, atores, autônomos, autistas.<br />
<br />
Agora
nada restava para aqueles bêbados, a não ser a certeza da loucura que
eles nunca quiseram tratar com escolas e universidades e chefes e
certezas.<br />
<br />
“Quando abre-se mão de tudo, até da morte você escapa.” Ele pensou antes de pular da ponte e sair nadando rio abaixo.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-8974947343912233572013-07-09T17:24:00.001-03:002013-08-02T23:15:51.339-03:00Refluxo de lirismo<div style="text-align: justify;">
"Eu só preciso sonhar... Eu só preciso sonhar..."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele balbuciava essas palavras como um mantra enquanto forçava mais uma dose de cachaça goela abaixo. Chegou no limite. Uma hora isso ia acontecer, e aconteceu: o corpo reclamava, declinava, refugava. O estômago travava antes de a cabeça levantar vôo. Era desesperador, ele simplesmente não conseguia mais ficar bêbado. E com isso, foi-se o último refúgio, a última esperança. Aquele último abrigo pra onde ele corria e se escondia da dor já não existia mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não poder fugir da realidade era cruel. Porque a realidade dele era cruel. Era amarga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Conheceram-se havia dez anos. Exatos dez anos... Viveram juntos - intrinsecamente juntos - por sete anos, sendo cinco deles sob o mesmo teto. Foi de repente, depois de um final de semana corriqueiro na casa dos pais, que ela se virou e disse: é o fim. Assim, seco, direto, como murro certeiro na boca do estômago. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pior... Foi como murro que sai do além, que surge do nada, sem corpo por detrás, sem uma cara, sem uma briga, sem uma voz exasperada que o anuncie em insultos e palavrões, nada! Simplesmente atinge em cheio o estômago, e espalha a dor lancinante junto com a impotência da falta de ar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era esse o seu maior desgosto. Relacionamentos acabam, têm começo-meio-e-fim, ele sempre soube e entendia bem. Mas tudo que acaba anuncia o seu fim... Como a garrafa que vai ficando mais leve, ou o copo que vai ficando mais quente... O fim sempre anuncia sua iminência, de forma que podemos tentar evitá-lo, ou ao menos nos prepararmos para sua chegada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com ela não foi assim. Foi súbito. Foi o beijo apaixonado na rodoviária e, setenta e duas horas depois, malditas setenta e duas horas depois, o fim. Repentino, decidido, curto e grosso. E então ela partiu sem olhar pra trás. E de repente, tornou-se rude. E ele, tornou-se um estranho em sua vida. Ela ficou ríspida, como se a existência dele a ofendesse. Como pode ser possível? Como um ser humano é capaz de sentir tamanha paixão e, de repente, extirpar de si aquele amor como se fosse um câncer? Por que não avisou? Por que não disse que pra ela tudo andava mal? Por que o fez crer que caminhava nas nuvens enquanto na verdade caminhava em direção ao abismo? Por que diabos ela tentara salvar o relacionamento de forma unilateral, sem compartilhar com ele as angústias e tormentos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda que tivesse acabado... Não poderia ser mais humano? Não poderia o fim ter sido precedido de uma crise? De uma briga? Uma bronca? Um questionamento insatisfeito???? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele não a culpava pelo fim - claro que todos têm o direito de querê-lo. Ele a culpava pela forma como ela o atropelara e saia cantando pneus, sem nem olhar pra trás.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não teria saudade? Nenhuma pontinha? De nada? Nem do bife de chorizo, ou do vinho que tomavam juntos? Das tardes, dos filmes, dos planos... Não sentiu falta de nada? De nem um ponto e vírgula desse conto mal escrito que virou o relacionamento deles?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eram muitas perguntas para pouquíssimas respostas. Ele fechou os olhos marejados, e pediu mais uma dose.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-19560465286216647062013-06-22T16:58:00.000-03:002014-05-27T16:04:35.851-03:00O Caos.<div style="text-align: justify;">
<em>"Ah: fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele.Que não suspeitará de tua perdição, mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo estás. </em></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<em>Na frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com a ponta dos dedos o nascimento de novos fios brancos nas tuas têmporas, o percurso áspero e cada vez mais fundo dos negros vales lavrados sob teus olhos profundamente desencantados. Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro. Sabes também que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te conduza ao céu ou ao inferno. Mas sabes principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa.Só não saberás nunca que neste exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva</em>."<br />
<b>Caio Fernando Abreu.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E de repente, vem de dentro aquela incessante vontade de errar, de vagar, de cair pelo mundo sem rumo. De gritar, de questionar, de voltar no tempo, rasgar-se novamente - e sempre, fazer tudo igual mas de forma diferente, e reconstruir aquilo que simplesmente se desmanchou no ar - e você não sabe por que.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sabe por que não entende como podem as coisas terem começo-meio-e-fim em tempos diferentes para pessoas diferentes. Não sabe porque não entende - e não aceita- que o fim dele chegou antes do seu. Não entende como podem dois universos se fundirem e se partirem com tanta facilidade. Não suporta imaginar que a sua dor lateja enquanto a dele sequer existe. Acha injusto, se rebela, se debate, se questiona, tenta se apegar a detalhes e resquícios do passado, que só servem para esfregar na sua cara que o presente não faz sentido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E aí não tem pra onde fugir, nem como se esconder. Você sabe que só vai esquecer o castelo de areia que a vida lhe implodiu com um tapa quando construir outro castelo, mas castelos não se constroem do nada, e nesse meio tempo você sofre. Se contorce, se debate. Sente a vida amarga, correndo em forma de calafrio pela espinha. Sente ódio quando na verdade sabe que tem amor. Substitui a lacuna da ferida aberta no coração pela raiva, pela amargura, pelo maldizer. Sente-se um lixo por dentro enquanto tenta sorrir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a pergunta que sempre fica no ar é "por que"? Por que comigo? E aí a garganta seca, e o silêncio lhe responde. É porque é. Foi porque foi. Bem vinda à vida. E quanto mais alto o vôo, maior a queda. E você vai se sentir calejada, não vai mais querer sofrer isso nunca mais. Vai negar, vai ser fria, vai tratar pessoas como objeto, vai criar uma casca blindada para não se ferir - e com isso também deixará de sentir. E nunca mais construirá castelos de areia, mas apenas amontoados de pedras disformes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vai se jogar no caos, na esbórnia, na balbúrdia, vai perder o foco e errar a mão. Vai se perder, e perdida, se afogar cada vez mais na própria solidão. É que a vida, minha cara, é ingrata pra quem sente. É ingrata para pessoas como você, sentimentalóides e românticas. A vida é feita para quem mente, para quem engana, para quem pisa e passa por cima. Não para gente como você. Mas você nuca vai mudar, não é verdade? E enquanto o outro ri, você sofre, mas um dia a própria vida dará o troco - para o outro e para você.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-73530656840788925392012-10-10T23:52:00.000-03:002012-10-10T23:59:09.601-03:00Sobre o Mestre...<div style="text-align: justify;">
Eu estava no segundo ano de faculdade e no primeiro estágio de direito. Escritório grande, a primeira festa de final de ano. Tinha todo um ranço em mim, que às vezes sinto ainda latente, com esse mundo corporativo, escritório, pompas, ternos, protocolos, e gente chata.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já devia estar pra lá do oitavo uísque, noite adentro e completamente deslocado, tentando aproveitar aquele evento que ao menos era de graça. Eis que aparece aquele cara do RH. Era o cara que tinha me entrevistado, logo que entrei no escritório, uns 8 meses antes daquela festa. Puxou assunto naquele estilo "já dobramos o cabo da boa esperança", falando meio mole, brindando os copos e fazendo qualquer comentário genérico sobre a festa. Trocamos algumas palavras e, de repente, ele olha sério e me diz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Você escreve, né?<br />
Fiquei meio transtornado... Como assim, eu escrevo??</div>
<div style="text-align: justify;">
- Como assim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Fui mexer outro dia no computador do <i>fun floor </i>(como os computadores do escritório eram bloqueados pra tudo, havia alguns computadores "públicos" para o pessoal acessar emails pessoais e demais baboseiras) e vi teu blog nos históricos. Entrei e achei muito legal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha reação foi um pouco de vergonha... Estranheza. Tinha um blog e escrevia poesia há uns 2 ou 3 anos, mas achava aquilo tão surrealmente incompatível com a vida de "homem direito" que eu estava já trabalhando, esforçadamente, a idéia de que o melhor seria ter medo que aquilo de alguma forma pudesse me prejudicar.<br />
<br />
Temia que descobrissem, pelos meus versos, que eu era um romântico inveterado e beberrão. Que eu era um bohêmio por vocação mas, sem grande patrimônio, me travestia de cara-lambida em horário comercial para poder pagar meu samba e minha cachaça no final do dia. Então, ele continuou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sou músico, e escrevo também. Eu curto pra caramba poesia, letras... Estou terminando de gravar um CD! Vou lançar logo mais...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dai pra frente, ficamos horas e doses de uísque a fio falando sobre música, poesia, arte, literatura... Caramba! Um cara daqueles cara-lambida, que usava o mesmo terninho surrado TNG que eu, fazia cara de bosta pros chefes mas... Tocava violão! Curtia Chico Buarque!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi assim que conheci meu grande amigo. Meu mestre e parceiro, Gustavo Santos. Ficamos amigos e passamos a nos falar diariamente. Fui ao show de lançamento do CD dele. Achei fantástico! Mas ainda tínhamos um quê de colegas de trabalho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia, ele me mandou um email comentando sobre uma das minhas poesias, chamada "Passeio". Era - e ainda é - uma das minhas preferidas. Daquelas poucas poesias que não me canso de reler e às vezes pergunto "onde diabos eu estava com a cabeça pra escrever isso?".<br />
<br />
Essa é uma poesia que eu escrevi musicada. Tinha um ritmo e uma melodia prontos dentro da minha cabeça. Mas eu nunca fui bom com música, meu talento é nulo, e eu mal toco cifras decoradas no violão. Na minha cabeça, ela tinha uma melodia, mas eu nunca consegui expressar isso. E não só "Passeio", mas muitos poemas que escrevi nasceram como música.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Respondi àquele e mail dele dizendo que era meu poema favorito, e mandei, na lata: "você não quer musicar?". Eu sempre tive essa vontade de ver alguém profissionalmente dando vida aos meus poemas, fazendo deles uma música, completa. E aquele cara era um músico, profissional, e com sensibilidade para entender poesia... Eu sabia disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele aceitou a proposta. Uma semana depois, me convidou para ir à casa dele ouvir em primeira mão. Cheguei com uma garrafa de uísque debaixo do braço. Quando ela chegou na metade, ele puxou a viola de lado, pigarreou, e começou "Visto a minha saia mais bonita...".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cara! Não sei como descrever o que passou pela minha cabeça naquele momento. Me arrepiei todo... Era o meu poema predileto simplesmente tomando vida, na minha frente, e virando música!!! Uma música linda! Uma melodia perfeita, com acordes rebuscados, dedilhado, porra!!! PUTAQUEPARIU!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí nasceu uma enorme amizade. E foram muitos porres e versos juntos. Confidências, reclamações, planos. O Gustavo, meu colega de trabalho, virou o Gustavão, a quem me referia como "Mestre". Um amigo que parecia estar na minha vida desde que eu nasci. E que hoje em dia, putaquepariu, faz uma falta... Mas uma falta... Que mal tenho como explicar... Nem sei por onde começar...</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-11877432433787082012-10-01T22:32:00.001-03:002012-10-01T22:32:45.363-03:00Poema ao mestre 2012<br />
E se o tempo pudesse voltar?<br />
E se a gente pudesse tomar só mais um trago?<br />
E se eu pudesse escrever só mais uma, a última letra?<br />
E você musicasse... E a gente risse...<br />
E matasse mais uma garrafa...<br />
Filosofando sobre a vida,<br />
questionando a nossa mediocridade<br />
E se afogando nela... hein?<br />
<br />
E se eu soubesse que seria assim?<br />
Que você iria tão cedo?<br />
Teria escrito mais?<br />
Teria rido mais com você?<br />
Teria dado mais conselhos?<br />
Teria ouvido suas lições, <br />
ou comido mais feijoada?<br />
<br />
Por que mesmo recusei aquela cerveja?<br />
Recusei porque nunca pensei que foste imortal<br />
Mas também nunca imaginei que morrerias agora.<br />
Não assim... Não tão cedo. Cedo...<br />
<br />
Mestre... Mestre!<br />
E se não existisse saudade?<br />
O que me preencheria agora?<br />
<br />
E se você não fosse genial,<br />
como a gente teria se conhecido?<br />
<br />
Não teria...<br />
Não seria.<br />
<br />
Não existe "Se" na história<br />
Mas eu adoraria que existisse...<br />
<br />
E se você não tivesse partido,<br />
<br />
E se você estivesse longe,<br />
Mas ainda me ouvisse!?<br />
<br />
No fim das contas, creia-me:<br />
Não existe "se" na história<br />
mas há você na memória...<br />
<br />
Sempre.<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-6542373234574538302012-03-06T23:48:00.001-03:002012-03-06T23:48:26.708-03:00PensarEu tenho um problema sério: eu penso. E isso pode soar arrogante de minha parte, mas não é essa a verdade, e eu explico.<br />
Eu penso. Gosto de pensar, de receber informação - de todo o tipo - e analisar, fazer dela uma leitura crítica, ter uma visão crítica do mundo ao meu redor, e perceber que as coisas vão muito além da superfície de verniz que nos é vendida. Adoro discutir, tenho muito apreço por pontos de vista diferentes do meu. Eu adoro que discordem de mim, mas o problema é que na grande maioria das vezes eu não me encontro debatendo com pessoas que têm idéias formadas, mas apenas e tão-somente preconceito raso e obtuso.<br />
Como dogmas religiosos que nos são enfiados goela abaixo, as pessoas se usam do preconceito raso para esconder a própria preguiça e ignorância. E aí desanima... E sinceramente, às vezes sinto que seria muito mais feliz se eu também tivesse cá comigo meu punhado de preconceitos dogmáticos para me esconder atrás... É disso que sinto falta, da ignorância medíocre... Ou da mediocridade ignorante, dá na mesma...Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-65702454749441486822010-12-15T11:59:00.003-02:002010-12-15T12:01:18.260-02:00Ano novo, vida nova, idéia novas...Blog novo!<br /><br />Não, o "Em pé no balcão" não vai morrer. Mas eu tive uma idéia de escrever coisas específicas... E resolvi criar um blog só pra isso. "Conta um Canto". A idéia é simples: escrever pequenos contos a partir de letras de música...<br /><br />Divirtam-se!<br /><br /><a href="http://contaumcanto.blogspot.com/">http://contaumcanto.blogspot.com/</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-13574976418947402702010-12-12T18:39:00.002-02:002010-12-12T18:45:05.666-02:00A Fita Branca<div style="text-align: justify;">Adoro um bom filme, desses que nos deixam mudos e nos fazem passar horas de introspecção para poder digerir tudo aquilo que foi visto... Lembro quando "Fita Branca" estava em cartaz lá no CineTam, no itaim. Passei um dia na porta, vi o cartaz e fiquei curioso. Fui ler a resenha e fiquei morrendo de vontade de ver. Filme austríaco, em preto e branco... Pareceu realmente interessante mas, em tempos de loucura e correria de quintanista na faculdade, acabei não vendo. Eis que na semana passada eu me deparo com esse filme à venda. Não titubeei! Comprei na hora. Assim que terminei de ver, tive vontade de escrever uma crítica, de pesquisar um pouco mais sobre aquele recorte histórico e comentar um pouco do filme... Mas aí, a internet tem dessas coisas, vi que já tinham feito isso antes, e de forma muito boa. Então, deixo apenas o link: <a href="http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/critica-do-filme-a-fita-branca">http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/critica-do-filme-a-fita-branca</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E acho que minha veia de cinéfilo reaflorou novamente... Nada como ter tempo! Acho que vou comprar uns 3 DVDs por semana...</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-31288680201441549432010-12-06T11:39:00.002-02:002010-12-06T11:49:02.967-02:00Et c'est fini...<div align="justify">Acabou, <em>mano</em>... Já era!! Acabou... Perdeu, <em>preibói</em>! Acabou o ano, acabou a faculdade! Fiz a última prova no dia 24 de Novembro. Formado. Advogado... A ficha ainda não caiu... Às vezes estranho quando ouço "esse é o Gabriel, advogado da área ambiental...". Sinto uma euforia imensa, uma sensação de superação, de passagem por uma fase da vida. Fico empolgado com a possibilidade de novos projetos, com o mestrado, com os planos de retomar os estudos de francês... Tudo me empolga, mas não tem como negar uma certa nostalgia já latente. De um dia para o outro, passei a não mais pertencer ao ambiente que me acolheu por 6 anos. Não mais faço parte daquele universo. Não tenho mais o porão ao alcance da mão todos os dias, para poder correr e abraçar uma Serramalte trincando sempre que houver o menor sinal de tédio ou perturbação. Não tem mais as escadas, as conversas fiadas, as infindáveis discussões sobre política, futebol, piadas, distribuição de renda, responsabilização civil, movimentos sociais, movimentos de pernas, cabelo, barba, bigode, putaria, filosofia, cachaça... Não tem!</div><br />Vai fazer falta... Eu sei que vai... Mas é natural. <em>Faiz parrrte</em>... E vamos que vamos!Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5227546991239633697.post-41941827735224938042010-05-20T08:14:00.004-03:002010-05-23T02:21:22.060-03:00"São sete horas da manhã, vejo o cristo da janela..."A diferença entre o Cazuza e eu, além de eu estar vivo e nunca ter sido playboy, é que eu sequer vejo o cristo da janela. Poderia dizer também que às 7h da manhã eu estou acordado há mais de uma hora, e ele provavelmente estaria indo dormir...<div style="text-align: justify;"><br />O fato é que, apesar dos pesares, o cara mandava bem e eu gosto de muitas músicas dele. E essa música, Um trem para as Estrelas, acaba sendo minha trilha sonora de todas as manhãs, mesmo que inconscientemente. Essa visão de mundo como sendo um emaranhado de engrenagens que se movimentam compulsivamente e de maneira totalmente alheia à nossa vontade é uma visão talvez pessimista, quiçá meio adolescente, mas é ainda a minha visão. E eu não sei se isso um dia vai mudar... "Eu vou dar o meu desprezo / Pra você que me ensinou / Que a tristeza é uma maneira / Da gente se salvar depois". O desprezo... Pra mim, o desprezo é o pior sentimento que alguém pode nutrir. Não amo, não desgosto, não odeio: desprezo. É cortante, é dolorido. É desprezo.<br /><br />Acontece que me faltam palavras. É esse o problema da minha vida atualmente, me faltam palavras. Não sei se a faculdade, o trabalho, o mundo, ou eu mesmo, mas o fato é que algo usurpou de mim a grandiloqüência dos meus vinte e tantos anos. O destino me calou. O soco na boca do estômago do quotidiano doeu mais forte dessa vez.<br /></div><br />Num trem pras estrelas / Depois dos navios negreiros / Outras correntezas"Corrói por dentro. Não me acostumo, não me habituo. Mas vou levando... Vou levando, sabe-se lá como! "O amor, Carlos, você telúrico, a noite passou em você, e os recalques se sublimando". Entretanto, eu caminho, como Carlos. Melancólico e vertical. Até quando? Ninguém sabe...Unknownnoreply@blogger.com0