quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sobre o Mestre...

Eu estava no segundo ano de faculdade e no primeiro estágio de direito. Escritório grande, a primeira festa de final de ano. Tinha todo um ranço em mim, que às vezes sinto ainda latente, com esse mundo corporativo, escritório, pompas, ternos, protocolos, e gente chata.

Já devia estar pra lá do oitavo uísque, noite adentro e completamente deslocado,  tentando aproveitar aquele evento que ao menos era de graça. Eis que aparece aquele cara do RH. Era o cara que tinha me entrevistado, logo que entrei no escritório, uns 8 meses antes daquela festa. Puxou assunto naquele estilo "já dobramos o cabo da boa esperança", falando meio mole, brindando os copos e fazendo qualquer comentário genérico sobre a festa. Trocamos algumas palavras e, de repente, ele olha sério e me diz:

-Você escreve, né?
Fiquei meio transtornado... Como assim, eu escrevo??
- Como assim?
- Fui mexer outro dia no computador do fun floor (como os computadores do escritório eram bloqueados pra tudo, havia alguns computadores "públicos" para o pessoal acessar emails pessoais e demais baboseiras) e vi teu blog nos históricos. Entrei e achei muito legal.

Minha reação foi um pouco de vergonha... Estranheza. Tinha um blog e escrevia poesia há uns 2 ou 3 anos, mas achava aquilo tão surrealmente incompatível com a vida de "homem direito" que eu estava já trabalhando, esforçadamente, a idéia de que o melhor seria ter medo que aquilo de alguma forma pudesse me prejudicar.

Temia que descobrissem, pelos meus versos, que eu era um romântico inveterado e beberrão. Que eu era um bohêmio por vocação mas, sem grande patrimônio, me travestia de cara-lambida em horário comercial para poder pagar meu samba e minha cachaça no final do dia. Então, ele continuou:

- Eu sou músico, e escrevo também. Eu curto pra caramba poesia, letras... Estou terminando de gravar um CD! Vou lançar logo mais...

Dai pra frente, ficamos horas e doses de uísque a fio falando sobre música, poesia, arte, literatura... Caramba! Um cara daqueles cara-lambida, que usava o mesmo terninho surrado TNG que eu, fazia cara de bosta pros chefes mas... Tocava violão! Curtia Chico Buarque!

Foi assim que conheci meu grande amigo. Meu mestre e parceiro, Gustavo Santos. Ficamos amigos e passamos a nos falar diariamente. Fui ao show de lançamento do CD dele. Achei fantástico! Mas ainda tínhamos um quê de colegas de trabalho. 

Um dia, ele me mandou um email comentando sobre uma das minhas poesias, chamada "Passeio". Era - e ainda é - uma das minhas preferidas. Daquelas poucas poesias que não me canso de reler e às vezes pergunto "onde diabos eu estava com a cabeça pra escrever isso?".

Essa é uma poesia que eu escrevi musicada. Tinha um ritmo e uma melodia prontos dentro da minha cabeça. Mas eu nunca fui bom com música, meu talento é nulo, e eu mal toco cifras decoradas no violão. Na minha cabeça, ela tinha uma melodia, mas eu nunca consegui expressar isso. E não só "Passeio", mas muitos poemas que escrevi nasceram como música.

Respondi àquele e mail dele dizendo que era meu poema favorito, e mandei, na lata: "você não quer musicar?". Eu sempre tive essa vontade de ver alguém profissionalmente dando vida aos meus poemas, fazendo deles uma música, completa. E aquele cara era um músico, profissional, e com sensibilidade para entender poesia... Eu sabia disso.

Ele aceitou a proposta. Uma semana depois, me convidou para ir à casa dele ouvir em primeira mão. Cheguei com uma garrafa de uísque debaixo do braço. Quando ela chegou na metade, ele puxou a viola de lado, pigarreou, e começou "Visto a minha saia mais bonita...".

Cara! Não sei como descrever o que passou pela minha cabeça naquele momento. Me arrepiei todo... Era o meu poema predileto simplesmente tomando vida, na minha frente, e virando música!!! Uma música linda! Uma melodia perfeita, com acordes rebuscados, dedilhado, porra!!! PUTAQUEPARIU!

Daí nasceu uma enorme amizade. E foram muitos porres e versos juntos. Confidências, reclamações, planos.  O Gustavo, meu colega de trabalho, virou o Gustavão, a quem me referia como "Mestre". Um amigo que parecia estar na minha vida desde que eu nasci. E que hoje em dia, putaquepariu, faz uma falta... Mas uma falta... Que mal tenho como explicar... Nem sei por onde começar...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Poema ao mestre 2012


E se o tempo pudesse voltar?
E se a gente pudesse tomar só mais um trago?
E se eu pudesse escrever só mais uma, a última letra?
E você musicasse... E a gente risse...
E matasse mais uma garrafa...
Filosofando sobre a vida,
questionando a nossa mediocridade
E se afogando nela... hein?

E se eu soubesse que seria assim?
Que você iria tão cedo?
Teria escrito mais?
Teria rido mais com você?
Teria dado mais conselhos?
Teria ouvido suas lições,
ou comido mais feijoada?

Por que mesmo recusei aquela cerveja?
Recusei porque nunca pensei que foste imortal
Mas também nunca imaginei que morrerias agora.
Não assim... Não tão cedo. Cedo...

Mestre... Mestre!
E se não existisse saudade?
O que me preencheria agora?

E se você não fosse genial,
como a gente teria se conhecido?

Não teria...
Não seria.

Não existe "Se" na história
Mas eu adoraria que existisse...

E se você não tivesse partido,

E se você estivesse longe,
Mas ainda me ouvisse!?

No fim das contas, creia-me:
Não existe "se" na história
mas há você na memória...

Sempre.

terça-feira, 6 de março de 2012

Pensar

Eu tenho um problema sério: eu penso. E isso pode soar arrogante de minha parte, mas não é essa a verdade, e eu explico.
Eu penso. Gosto de pensar, de receber informação - de todo o tipo - e analisar, fazer dela uma leitura crítica, ter uma visão crítica do mundo ao meu redor, e perceber que as coisas vão muito além da superfície de verniz que nos é vendida. Adoro discutir, tenho muito apreço por pontos de vista diferentes do meu. Eu adoro que discordem de mim, mas o problema é que na grande maioria das vezes eu não me encontro debatendo com pessoas que têm idéias formadas, mas apenas e tão-somente preconceito raso e obtuso.
Como dogmas religiosos que nos são enfiados goela abaixo, as pessoas se usam do preconceito raso para esconder a própria preguiça e ignorância. E aí desanima... E sinceramente, às vezes sinto que seria muito mais feliz se eu também tivesse cá comigo meu punhado de preconceitos dogmáticos para me esconder atrás... É disso que sinto falta, da ignorância medíocre... Ou da mediocridade ignorante, dá na mesma...