domingo, 18 de agosto de 2013

Um conto: retalhos de MPB

Eis aqui tudo de novo, a mesma grande saudade, a mesma grande vontade. Ponho o meu sapato novo e vou passear, sozinho, como der. Eu bato o portão sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade. Se você quer me seguir, não é seguro. Hoje eu quero sair só. Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor. Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar.

Preciso andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar, diz que fui por aí levando o violão debaixo do braço. Eu já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada. Seu segredos, eu sei de cor. Pois é, então. Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz, e que ter medo de amar não faz ninguém feliz.

Tenho um peito de lata e um nó de gravata no coração.Tenho uma vida sensata, sem emoção. Não me venha falar na malícia de toda mulher, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Basta de clamares inocência,eu sei todo o mal que a mim você fez. 

Você desconhece consciência, só deseja o mal a quem o bem te fez.Ah, eu quero te dizer que o instante de te ver, custou tanto penar. Eu quero te contar das chuvas que apanhei,das noites que varei no escuro a te buscar.

Valei-me, deus! Você sabe o que é ter um amor, meu senhor? Ter loucura por uma mulher? Queixo-me às rosas: há pessoas de nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração.Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar.O resto é mar, é tudo que não sei contar, são coisas lindas que eu tenho pra lhe dar. Vou seguir os conselhos de amigos, e garanto que não beberei nunca mais. E com o tempo esse imenso vazio que sindo, se esvai. 

E se, de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente? E quando de repente atravessando a mesma rua engarrafada, em cada luz de mercúrio vejo a luz do teu olhar. Passas praças, viadutos nem te lembras de voltar... E quando a gente descobrir que as coisas não são mais como propunha o passado pro futuro, quem havia de dizer?

Se fosse resolver, iria te dizer: foi minha agonia.Pobre de mim, sonhar contigo, jamais. Ah, se eu pudesse, não caía na tua conversa mole outra vez, não dava mole à tua pessoa.

Ai, a lua que no céu surgiu não é a mesma que te viu. A insensatez que você fez, mulher sem razão! Eu conheço o medo de ir embora, não saber o que fazer com a mão. E eu sinto assim todo o meu peito se apertar, por que parece que acontece de repente, como um desejo de eu viver sem me notar.

Adeus, você. Eu hoje vou pro lado de lá. Num trem para a estrelas, depois dos navios negreiros, outras correntezas. Eu queria ver no escuro do mundo. Será que você ainda pensa em mim? A Luz negra de um destino cruel ilumina um teatro sem cor onde eu tô representando o papel de palhaço do amor.

É, meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza, é preciso inventar de novo o amor.É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe. Mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, senão, não se faz um samba não.


*Referência Bibliográfica (atendendo a pedidos):
Tudo de novo - Caetano Veloso
Sapato Novo - Los Hermanos 
Trocando em Miúdos - Chico Buarque 
Hoje eu quero sair só - Lenine 
Samba do Grande amor - Chico Buarque 
Travessia - Milton Nascimento 
Preciso me encontrar - Candeia 
Diz que fui por aí - Nara Leão 
Retrato em Branco e Preto - Chico Buarque 
Medo de amar - Vinicius de Morais 
Cara a Cara - Chico Buarque 
Dom de Iludir - Caetano Veloso 
Basta de clamares inocência - Cartola Sem 
Fantasia - Chico Buarque 
Flor de Lis - Djavan 
Nervos de aço - Jamelão 
As rosas não falam - Cartola 
Foi um rio que passou  - Paulinho da Viola 
Wave - Tom Jobim 
Peito Vazio - Cartola 
Fantasia - Chico Buarque 
Quem havia de dizer - Oswaldo Montenegro
Paralelas - Belchior 
Agonia - Oswaldo Montenegro 
Se eu soubesse - Chico Buarque
Serenata do adeus - Vinicius de Morais 
Insensatez - Tom Jobim 
Mulher sem razão - Cazuza 
Estrada nova - Oswaldo Montenegro 
Gente Humilde - Chico Buarque 
Adeus, você - Los Hermanos 
Um trem para as estrelas - Cazuza 
Quase um segundo - Cazuza
Luz Negra - Cazuza 
Carta ao Tom 74 - Vinicius de Morais 
Samba da bênção - Vinicius de Morais

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